lunática
LUNÁTICA
todas as mulheres que conheço
sei pela beleza e pela força do oceano indizível
mas você, eu desejaria decifrar pelo olhar
não o olhar que tenho ao vê-la impressa na folha
às letras esfareladas, como se se soltassem do ramo mais alto,
sem agonia ou lamento, e procurassem penetrar a terra
você, eu desejaria decifrar pela clemência celestial
seus olhos enxergando entre os ramos de um ipê-branco
uma família de pássaros dançando o azul oceânico
contido no sono profundo dos peixes nadando
ao fundo do último segundo que precede a aurora
você, eu desejaria decifrar pelo fim —
as anchovas libertadas da hora mais escura
do facismo da Lua, que dita as marés noturnas
e pungentemente impugna a dor às mulheres
de seis séculos firmados pela travessia ao revés